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Caso Cais Vila Nova - Repúdio

Ana Lúcia Amorim Boaventura

Publicado no jornal Diário da Manhã em 20 de Agosto de 2012

Voltando do 19º Congresso Mundial de Direito Médico, no aeroporto de Brasília, me inteirei do que aconteceu dia 09 de agosto no Cais da Vila Nova, com relação ao paciente colostomizado.  Lendo a reportagem, duas palavras me vieram a mente: pavor e utopia. A primeira porque me coloquei no lugar daquele jovem senhor e pensei que poderia ter sido eu, meu esposo, um filho meu, enfim, qualquer um de nós. A segunda palavra, utopia,  porque depois de toda uma semana mergulhada num universo de discussões sobre a saúde no mundo e no Brasil vejo que o básico falta. Chamo de básico valores de respeito e amor ao próximo. Ali naquele Cais não faltou nada além disso. De que valem discussões elaboradas, frases de efeito, protocolos, uma lista interminável de leis, se ainda falta amor, zelo e dignidade?



 

A palavra utopia também me fez lembrar Thomas More, que opinava que as leis não poderiam mudar costumes de forma efetiva. Na sua visão, deveríamos fazer como os “utopianos”, que ensinavam as crianças desde cedo o que são e como se praticam "virtudes cidadãs". Logo, com o passar do tempo, tais virtudes iriam sendo incorporadas à vida das pessoas e se tornariam leis.



Dentro desse cenário de vulnerabilidade, dor, descaso e tudo mais que se possa agregar num ambiente de desamor, passo a concordar um a opinião de More estampada em seu clássico "Utopia". A força coativa das leis ainda não é mágica e poderosa o suficiente para tratar o coração humano. Isso seria divino! Ele afirma que a virtude jamais poderá ser normatizada. Que o império das leis não traz segurança. Mas, isso não foi o que o Estado Moderno entendeu e falhou, na minha humilde opinião. Como somos tolos!

 

Onde estava a nossa Constituição Federal, as leis que defendem a dignidade humana, o Código de Defesa do Consumidor e os impostos que certamente pagou este senhor? Longe. Mas os homens ali estavam. O Cais estava cheio e, segundo consta na reportagem, ninguém, além do senhor que filmou as cenas, fez nada. E pasmem, ele conclamou outras pessoas a registrarem o absurdo. Faltou respeito, faltou amor, faltou virtude. Fico com a opinião de Thomas More que diz que o exercício de atos certos só pode ser possível por meios de atitudes virtuosas e voluntárias. Até quando viveremos esta realidade de pavor?

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